Uma cartografia das correntes em educação ambiental
Lucie
Sauvé
Quando se aborda o
campo da educação ambiental, podemos nos dar conta de que apesar de sua
preocupação comum com o meio ambiente e do reconhecimento do papel central da
educação para a melhoria da relação com este último, os diferentes autores
(pesquisadores, professores, pedagogos, animadores, associações, organismos,
etc.) adotam diferentes discursos sobre a EA e propõem diversas maneiras de
conceber e de praticar a ação educativa neste campo. Cada um predica sua
própria visão e viu-se, inclusive,formarem-se“igrejinhas” pedagógicas que
propõem a maneira “correta” de educar, “o melhor” programa, o método
“adequado”.
Agora, como
encontrar-se em tal diversidade de proposições? Como caracterizar cada uma
delas, para identificar aquelas que mais convêm a nosso contexto de
intervenção, e escolher aquelas que saberão inspirar nossa própria prática?
Uma das estratégias
de apreensão das diversas possibilidades teóricas e práticas no campo da educação
ambiental consiste em elaborar um mapa deste “território” pedagógico.Trata-se
de reagrupar proposições semelhantes em categorias, de caracterizar cada uma
destas últimas e de distingui-las entre si, ao mesmo tempo relacionando-as:
divergências, pontos comuns, oposição e complementaridade.
É assim que
identificaremos e tentaremos cercar diferentes “correntes” em educação
ambiental. A noção de corrente se refere aqui a uma maneira geral de conceber e
de praticar a educação ambiental. Podem se incorporar, a uma mesma corrente,
uma pluralidade e uma diversidade de proposições. Por outro lado, uma mesma
proposição pode corresponder a duas ou três correntes diferentes, segundo o
ângulo sob o qual é analisada. Finalmente, embora cada uma das correntes
apresente um conjunto e características específicas que a distingue das outras,
as correntes não são, no entanto, mutuamente excludentes em todos os planos:
certas correntes compartilham características comuns. Esta sistematização das
correntes torna-se uma ferramenta de análise a serviço da exploração da
diversidade de proposições pedagógicas e não um grilhão que obriga a
classificar tudo em categorias rígidas, com o risco de deformar a realidade.
Exploraremos
brevemente quinze correntes de educação ambiental. Algumas têm uma tradição
mais “antiga” e foram dominantes nas primeiras décadas da EA (os anos de 1970 e
1980); outras correspondem a preocupações que surgiram recentemente.
Entre as correntes
que têm uma longa tradição em educação ambiental, analisaremos as seguintes:
•
a corrente naturalista
•
a corrente conservacionista/recursista
•
a corrente resolutiva
•
a corrente sistêmica
•
a corrente científica
•
a corrente humanista
•
a corrente moral/ética
Entre
as correntes mais recentes:
•
a corrente holística
•
a corrente biorregionalista
•
a corrente práxica
•
a corrente crítica
•
a corrente feminista
•
a corrente etnográfica
•
a corrente da eco-educação
•
a corrente da sustentabilidade
Cada
uma das correntes será apresentada em função dos seguintes parâmetros:
–a
concepção dominante do meio ambiente;
–a
intenção central da educação ambiental;
–os
enfoques privilegiados;
–exemplo(s)
de estratégia(s) ou de modelos(s) que ilustra(m) a corrente.
Finalmente
esta sistematização deve ser vista como uma proposta teórica e será vantajoso
que seja objeto de discussões críticas.
A
CORRENTE NATURALISTA
Esta corrente é
centrada na relação com a natureza. O enfoque educativo pode ser cognitivo
(aprender com coisas sobre a natureza), experiencial(Educação Ambiental: ver na
natureza e aprender com ela), afetivo, espiritual ou artístico (associando a
criatividade humana à da natureza).
A tradição da
corrente naturalista é certamente muito antiga, se consideramos as “lições de
coisas” ou a aprendizagem por imersão e imitação nos grupos sociais cuja
cultura está estreitamente forjada na relação com o meio natural.
No curso do último
século, a corrente naturalista pode ser associada mais especificamente ao
movimento de “educação para o meio natural” (nature education) e a certas
proposições de “educação ao ar livre” (outdoor education).
As proposições da
corrente naturalista com frequência reconhecem o valor intrínseco da natureza,
acima e além dos recursos que ela proporciona e do saber que se possa obter dela.
O modelo de
intervenção desenvolvido pelo norte-americano Steve Van Matre (1990) é por
certo o modelo típico de proposição que tem relação com a corrente naturalista.
“A Educação para a Terra” é apresentada como resposta ao diagnóstico de
ineficácia, feito pelo autor, sobre uma educação ambiental centrada na
resolução de problemas. Van Matre criou um Instituto de Educação para a Terra
cujo programa educativo consiste em convidar as crianças (ou outros
participantes) a viver experiências cognitivas e afetivas num meio natural,
explorando o enfoque experiencial, a pedagogia do jogo e o atrativo de se pôr
em situações misteriosas ou mágicas, a fim de adquirir uma compreensão dos
fenômenos ecológicos e de desenvolver um vínculo com a natureza.
Na pedagogia para os
adultos (andragogia), Michael Cohen (1990) afirma igualmente que de nada serve
querer resolver os problemas ambientais se não se compreendeu pelo menos como
“funciona” a natureza; deve-se aprender a entrar em contato com ela, por
intermédio de nossos sentidos e de outros meios sensíveis: o enfoque é
sensualista, mas também espiritualista, pois se trata de explorar a dimensão
simbólica de nossa relação com a natureza e de compreender que somos parte
integrante dela. Também frente aos adultos, Darlene Clover e colaboradores
(2000) insistem sobre a importância de considerar a natureza como educadora e
como um meio de aprendizagem; a educação ao ar livre (outdoor education) é um
dos meios mais eficazes para aprender sobre o mundo natural e para fazer compreender
os direitos inerentes da natureza a existir por e para ela mesma; o lugar ou
papel ou “nicho” do ser humano se define apenas nesta perspectiva ética.
A
CORRENTE CONSERVACIONISTA/RECURSISTA
Esta corrente agrupa
as proposições centradas na “conservação” dos recursos, tanto no que concerne à
sua qualidade como à sua quantidade: a água, o solo, a energia, as plantas
(principalmente as plantas comestíveis e medicinais) e os animais (pelos
recursos que podem ser obtidos deles), o patrimônio genético, o patrimônio
construído, etc. Quando se fala de “conservação da natureza”, como da
biodiversidade, trata-se sobretudo de uma natureza. Encontramos aqui uma
preocupação com a “administração do meio ambiente”, ou melhor dizendo, de
gestão ambiental.
A “educação para a
conservação” certamente sempre foi parte integrante da educação familiar ou
comunitária nos meios onde os recursos são escassos.
Entre outras, ela se
desenvolveu em situações de guerra em meados do último século – por exemplo,
fundindo velhas panelas para fazer munições (triste reciclagem!) –, e ao
constatar os primeiros sinais de esgotamento dos recursos depois do “boom”
econômico, após a segunda guerra mundial nos países desenvolvidos.
Os programas de
educação ambiental centrados nos três “R” já clássicos, os da Redução, da
Reutilização e da Reciclagem, ou aqueles
centrados em preocupações de gestão ambiental (gestão da água, gestão do lixo,
gestão da energia, por exemplo) se associam à corrente conservacionista/recursista.
Geralmente se dá ênfase ao desenvolvimento
de habilidades de gestão ambiental e ao ecocivismo. Encontram-se aqui
imperativos de ação: comportamentos individuais e projetos coletivos.
Recentemente, a educação para o consumo, além de uma perspectiva econômica,
integrou mais explicitamente uma preocupação ambiental da conservação de
recursos, associada a uma preocupação de equidade social.
Eco consumir é, primeiramente, fazer-se
algumas perguntas pertinentes antes de comprar:
• Esta compra corresponde a uma
necessidade? Esta compra não será redundante em relação ao que já se tem?
Trata-se aqui de evitar o esbanjamento (e toda compra) inútil.
Em seguida, escolher o produto de maneira
responsável, examinando o ciclo de vida dele:
• Em relação à sua produção: de que é composto
este produto? Os componentes são inofensivos? Eles proveem de matérias
renováveis ou de matérias recicladas? O procedimento de fabricação respeita os
critérios ambientais, éticos, etc.?
• Em relação à sua distribuição: Onde este
produto foi fabricado? Onde e como pode ser adquirido? Como está embalado? A
embalagem é descartável?
• Em relação à sua utilização: como se
emprega? Sua utilização tem efeitos no meio ambiente e na saúde? Sua utilização
implica o consumo de outros recursos (água, energia, outros produtos...)? O
material é sólido, consertável, recarregável, reutilizável?
• Em relação à sua eliminação: ao término
de sua utilização, pode ser reutilizado de outra maneira? Existe uma forma de
reciclagem? Se não, quais são as formas de eliminação controladas? Em qual
lixeira deve ser posto? Quanto custa sua eliminação?
Wolfgang Sachs
(2000, p. 77-78) formula, no entanto, uma advertência contra uma tendência
recursista em matéria de meio ambiente.
Que luzes projetamos
sobre as coisas (ou sobre os seres humanos) que em seguida elas são
qualificadas de recursos? Aparentemente, atribui-se a elas importância porque
são úteis para fins superiores. O que conta não é o que elas são, mas o que
elas podem vir a ser. Um recurso é uma coisa que não cumpre seu fim senão
quando é transformada em outra coisa: seu valor próprio se volatiliza ante a
pretensão de interesses superiores. (...) Nossa percepção esteve acostumada a
ver a madeira de construção numa mata, o mineral numa rocha, os bens de raiz
numa paisagem e o portador de qualificações num ser humano. O que se chama
recurso está situado sob a jurisdição da produção (...). Conceber a água, o
solo, os animais ou os seres humanos como recursos os marca como objetos que
necessitam da gestão de planejadores e o cálculo de preços dos economistas.
Este
discurso ecológico leva a acelerar a famosa colonização do mundo vivo.
A
CORRENTE RESOLUTIVA
A
corrente resolutiva surgiu em princípios dos anos 70, quando se revelaram a
amplitude, a gravidade e aceleração crescente dos problemas ambientais.
Agrupa proposições
em que o meio ambiente é considerado principalmente como um conjunto de
problemas. Esta corrente adota a visão central de educação ambiental proposta
pela UNESCO no contexto de seu Programa internacional de educação ambiental
(1975-1995). Trata-se de informar ou de levar as pessoas a se informarem sobre
problemáticas ambientais, assim como a desenvolver habilidades voltadas para
resolvê-las. Como no caso da corrente conservacionista/recursista, à qual a corrente
resolutiva está frequentemente associada, se encontra aqui um imperativo de
ação: modificação de comportamentos ou de projetos coletivos.
Uma das proposições
mais destacadas da corrente resolutiva é certamente a de Harold R. Hungerford e
colaboradores da Southern Illinois University (1992), que desenvolveram um
modelo pedagógico centrado no desenvolvimento sequencial de habilidades de
resolução de problemas. Segundo estes pesquisadores, a educação ambiental deve
estar centrada no estudo de problemáticas ambientais (environmental issues),
com seus componentes sociais e biofísicos e suas controvérsias inerentes:
identificação de uma situação problema, pesquisa desta situação (inclusive a
análise de valores dos protagonistas), diagnósticos, busca de soluções,
avaliação e escolha de soluções ótimas; a implementação das soluções não está
incluída nesta proposição. Este modelo “fez escola” nos Estados Unidos, onde
deu lugar a numerosos experimentos e publicações e cujas opções axiológicas
fundamentais foram propostas como padrão nacional, levantando então uma
polêmica entre os atores da educação ambiental, que fizeram valer a importância
de preservar e valorizar as diversas maneiras de conceber e praticar a EA.
A
CORRENTE SISTÊMICA
Para os que se
inscrevem nesta corrente, o enfoque sistêmico permite conhecer e compreender
adequadamente as realidades e as problemáticas ambientais. A análise sistêmica
permite identificar os diferentes componentes de um sistema ambiental e
salientar as relações entre seus componentes, como as relações entre os
elementos biofísicos e os elementos sociais de uma situação ambiental. Esta
análise é uma etapa essencial que permite obter em seguida uma visão de
conjunto que corresponde a uma síntese da realidade apreendida.
Chega-se assim à
totalidade do sistema ambiental, cuja dinâmica não só pode ser percebida e
compreendida melhor, como também os pontos de ruptura (se existirem) e as vias
de evolução.
O enfoque das
realidades ambientais é de natureza cognitiva e a perspectiva é a da tomada de
decisões ótimas. As habilidades ligadas à análise e à síntese são
particularmente necessárias.
A corrente sistêmica
em educação ambiental se apoia, entre outras, nas contribuições da ecologia,
ciência biológica transdisciplinar, que conheceu seu auge nos anos de 1970 e
cujos conceitos e princípios inspiraram o campo da ecologia humana.
Em Israel, Shoshana
Keiny e Moshe Shashack (1987) desenvolveram um modelo pedagógico centrado no
enfoque sistêmico: uma saída a campo permite observar uma realidade ou fenômeno
ambiental e analisar seus componentes e relações, a fim de desenvolver um
modelo sistêmico que permita chegar a uma compreensão global da problemática em
questão; esta visão de conjunto permite identificar e escolher soluções mais
apropriadas; o processo de resolução de problemas pode então continuar de
maneira adequada. André Giordan e Chirstian Souchon (1991), em seu trabalho
“Une éducation pour l’environnement”, integram igualmente o enfoque sistêmico,
que eles associam à adoção de um modo de trabalho interdisciplinar que possa
levar em conta a complexidade dos objetos e dos fenômenos estudados. O estudo
de um determinado meio ambiente leva primeiramente à identificação dos
seguintes aspectos: os elementos do sistema, quer dizer, os atores e fatores
(inclusive humanos) aparentemente responsáveis por um estado (ou por uma
mudança de estado); as interações entre estes elementos (a sinergia, por
exemplo, ou os efeitos contraditórios); as estruturas nas quais os fatores (ou
os seres) intervêm (incluindo as fronteiras do sistema, as redes de transporte
e de comunicação, os depósitos ou lugares de armazenamento de materiais e de
energia); as regras ou as leis que regem a vida destes elementos (fluxos,
Educação Ambiental 23 centros de decisão, cadeias de realimentação, prazos,
etc.). Em segundo lugar, trata-se de compreender as relações entre estes
diversos elementos e de identificar, por exemplo, as relações causais entre os
acontecimentos que caracterizam a situação observada. Finalmente, pode-se
aproveitar a compreensão sistemática da situação estudada para a busca de
soluções menos prejudiciais ou mais desejáveis em relação ao meio ambiente.
A
CORRENTE CIENTÍFICA
Algumas proposições
de educação ambiental dão ênfase ao processo científico, com o objetivo de
abordar com rigor as realidades e problemáticas ambientais e de compreendê-las
melhor, identificando mais especificamente as relações de causa e efeito. O
processo está centrado na indução de hipóteses a partir de observações e na
verificação de hipóteses, por meio de novas observações ou por experimentação.
Nesta corrente, a educação ambiental está seguidamente associada ao
desenvolvimento de conhecimentos e de habilidades relativas às ciências do meio
ambiente, do campo de pesquisa essencialmente interdisciplinar para a
transdisciplinaridade. Como na corrente sistêmica, o enfoque é sobretudo
cognitivo: o meio ambiente é objeto de conhecimento para escolher uma solução
ou ação apropriada. As habilidades ligadas à observação e à experimentação são
particularmente necessárias.
Entre as proposições
associadas a este campo, várias provêm de autores ou pedagogos que se
interessaram pela educação ambiental a partir de preocupações do âmbito da
didática das ciências ou, mais ainda, de seus campos de interesse em ciências
do meio ambiente. Para os didáticos, o meio ambiente torna-se um tema
“atrativo” que estimula o interesse pelas ciências, ou mais, uma preocupação
que proporciona uma dimensão social e ética à atividade científica. Geralmente,
a perspectiva é a de compreender melhor para orientar melhor a ação. Amiúde as
proposições da corrente científica integram o enfoque sistêmico e um processo
de resolução de problemas, encontrando-se assim com as outras duas correntes
anteriormente apresentadas.
Louis Goffin e
colaboradores (1985) propõem um modelo pedagógico centrado na seguinte
sequencia, que integra as etapas de um processo científico: uma exploração do
meio, a observação de fenômenos e criação de hipóteses, a verificação de
hipóteses, a concepção de um projeto para resolver um problema ou melhorar uma
situação. Este modelo adota igualmente um enfoque sistêmico e interdisciplinar,
na confluência das ciências humanas e das ciências biofísicas, o que lhe dá uma
maior pertinência.
Muito seguido, no
entanto, a associação entre a EA e a educação científica se situa somente no
contexto do ensino das ciências da natureza (ou ciências biofísicas). Faz-se
então um conjunto de perguntas e de preocupações.
A conjunção entre a
educação ambiental e o ensino das ciências poderia ser problemática. (...) O
argumento principal concerne às finalidades destas duas dimensões da educação:
por um lado, com a finalidade de otimizar a relação com o meio ambiente, a EA
teria como objetivo o desenvolvimento de atitudes e de um saber atuar em
relação às realidades ambientais. Por outro lado, a educação científica é
baseada, sobretudo, na ideia do científico (racionalidade, objetividade, rigor,
validade, reprodutibilidade, etc.).
A ciência é vista
amiúde como exata e independente do domínio subjetivo... (Blader, 1998-1999, p.
???).
Assim, a EA e a
educação científica teriam divergências, a priori incompatíveis, em suas
próprias finalidades. (Patrick Charland, 2003, p. ???) Alguns comentários
opostos, obtidos com professores de ciências, que testemunham a controvérsia em
curso (Sauvé et al, 1997):
• A EA ameaça a
integridade das disciplinas científicas. Corre-se o risco de esvaziar o ensino
das ciências de seu conteúdo disciplinar. Se são introduzidas as problemáticas
ambientais, por exemplo, não se faz química. Educar pelos valores, isso não é
ciência.
• A ciência utiliza
um método particular, quer dizer, um método experimental, hipotético-dedutivo:
trata-se de entrar em contato direto com a realidade, de observar, de se
questionar, de emitir hipóteses, de verificá-las. Seguidamente as atividades em
EA eliminam o contato com o objeto de aprendizagem e se atribuem um caráter
pseudocientífico.
A EA limita-se a
buscar informações em documentos, sem verificar a exatidão; dá uma pretensa
garantia científica, sem estimular o espírito crítico.
• Existe uma grande
semelhança entre o processo científico e o processo de resolução de problemas:
observação do meio, problematização e acompanhamento do processo de resolução.
Esta convergência pode ser vantajosamente utilizada para aproximar a EA e o
ensino das ciências.
• As situações de
aprendizagem propostas em EA interessam aos alunos porque elas estão
relacionadas com sua realidade concreta. Elas oferecem um contexto de
vulgarização de noções abstratas. Por outro lado, pode-se ligar o conhecimento
à ação. E os jovens têm necessidade de sentir que podem participar da mudança
social.
• Há um perigo em
reduzir a EA ao campo do ensino das ciências, onde paradoxalmente a EA é ao
mesmo tempo reivindicada como objeto próprio e legítimo e percebida como uma
espécie de “ovelha negra” que apresenta problemas. Para alguns, o problema é o
do risco de descaracterizar o ensino das ciências, para outros o problema é o
das condições atuais de ensino que não permitem desenvolver adequadamente a EA.
• É num contexto de
ensino das ciências e tecnologias integradas e, melhor ainda, em vínculo com o
ensino das ciências do meio ambiente (campo interdisciplinar ou
transdiciplinar) que a EA se integra melhor.
• Se a EA for
limitada ao ensino das ciências perde-se o sentido. A EA não pode se contentar
com um enfoque científico das realidades biofísicas, com uma investigação “da
boa resposta” como é habitualmente em ciências.
• Há riscos de
deixar os jovens pensarem que é somente PELA ciência onipotente, que se chegará
a solucionar nossos problemas de sociedade.
A
CORRENTE HUMANISTA
Esta corrente dá
ênfase à dimensão humana do meio ambiente, construído no cruzamento da natureza
e da cultura. O ambiente não é somente apreendido como um conjunto de elementos
biofísicos, que basta ser abordado com objetividade e rigor para ser melhor
compreendido, para interagir melhor. Corresponde a um meio de vida, com suas
dimensões históricas, culturais, políticas, econômicas, estéticas, etc. Não
pode ser abordado sem se levar em conta sua significação, seu valor simbólico.
O “patrimônio” não é somente natural, é igualmente cultural: as construções e
os ordenamentos humanos são testemunhos da aliança entre a criação humana e os
materiais e as possibilidades da natureza. A arquitetura, entre outros
elementos, se encontra no centro desta interação. O meio ambiente é também o da
cidade, da praça pública, dos jardins cultivados, etc.
Neste caso, a porta
de entrada para apreender o meio ambiente é frequentemente a paisagem. Esta
última é seguidamente modelada pela atividade humana; ela fala ao mesmo tempo
da evolução dos sistemas naturais que a compõem e das populações humanas que
estabeleceram nela suas trajetórias.
Este enfoque do meio
ambiente é, muitas vezes, preferido pelos educadores que se interessam pela
educação ambiental sob a ótica da geografia e/ ou de outras ciências humanas.
O enfoque é
cognitivo, mas além do rigor da observação, da análise e da síntese, a corrente
humanista convoca também o sensorial, a sensibilidade afetiva, a criatividade.
Bernard Deham e
Josette Oberlinkels (1984) propõem um modelo de intervenção característico da
corrente humanista, que convida a explorar o meio ambiente como meio de vida e
a construir uma representação deste último. A sequencia é a seguinte: uma
exploração do meio de vida por meio de estratégias de itinerário, de leitura da
paisagem, de observações livres e dirigidas, etc., que recorrem ao enfoque
cognitivo, sensorial e afetivo; um exame comum das observações e das perguntas
que se fizeram; a criação de um projeto de pesquisa que busque compreender
melhor um aspecto particular ou uma realidade específica do meio de vida; a
fase de pesquisa como tal, aproveitando os recursos que são o próprio meio (a
observar novamente), as pessoas do meio (para interrogar), os documentos
(impressos, informes, monografias, etc., para consultar) e o saber do grupo: os
conhecimentos e os talentos de cada um são aproveitados; a comunicação dos
resultados (um informe, uma produção artística ou qualquer outra forma de
síntese); a avaliação (contínua e ao fim do percurso); a criação de novos
projetos. Segundo os autores, conhecer melhor o meio ambiente permite se
relacionar melhor e, finalmente, estar em melhores condições para intervir
melhor: a primeira etapa é a de construir representação coletiva a mais rica
possível do meio estudado.
A
CORRENTE MORAL/ÉTICA
Muitos educadores
consideram que o fundamento da relação com o meio ambiente é de ordem ética: é,
pois, neste nível que se deve intervir de maneira prioritária. O atuar se
baseia num conjunto de valores, mais ou menos conscientes e coerentes entre
eles. Assim, diversas proposições de educação ambiental dão ênfase ao
desenvolvimento dos valores ambientais. Alguns convidam para a adoção de uma
“moral” ambiental, prescrevendo um código de comportamentos socialmente
desejáveis (como os que o ecocivismo propõe); mas, mais fundamentalmente ainda,
pode se tratar de desenvolver uma verdadeira “competência ética”, e de
construir seu próprio sistema de valores. Não somente é necessário saber
analisar os valores dos protagonistas de uma situação como, antes de mais nada,
esclarecer seus próprios valores em relação ao seu próprio atuar. A análise de
diferentes correntes éticas, como escolhas possíveis, torna-se aqui uma
estratégia muito apropriada: antropocentrismo, biocentrismo, sociocentrismo,
ecocentrismo, etc.
Como exemplo de
modelo pedagógico relacionado a esta corrente, notemos o que desenvolveu Louis
Iozzi (1987) e que aponta para o desenvolvimento moral dos alunos, em vínculo
com o desenvolvimento do raciocínio sociocientífico. Trata-se de favorecer a
confrontação em situações morais que levam a fazer suas próprias escolhas e a
justificá-las: o desenvolvimento moral opera, em diversas situações, por meio
do “conflito moral”, do confronto, às vezes difícil com as posições dos outros.
A estratégia do “dilema moral” é proposta aqui na seguinte sequencia: a
apresentação de um caso, seja uma situação moral (por exemplo, um caso de
desobediência civil frente a uma situação que se deseja denunciar); a análise
desta situação, com seus componentes sociais, científicos e morais; a escolha
de uma solução (conduta); a argumentação sobre esta escolha; o estabelecimento
de relação com seu próprio sistema de referência ética. Louis Iozzi propõe
igualmente a estratégia do debate (onde se confrontam diferentes posições
éticas) e a de um roteiro do futuro (que implica as escolhas de valores
sociais).
Um tal enfoque
racional das realidades morais ou éticas não é, no entanto, o único enfoque
possível: outros pedagogos propuseram enfoques afetivos, espirituais ou
holísticos.
A
CORRENTE HOLÍSTICA
Segundo os
educadores que inscrevem seus trabalhos nesta corrente, o enfoque exclusivamente
analítico e racional das realidades ambientais se encontra na origem de muitos
problemas atuais. É preciso levar em conta não apenas o conjunto das múltiplas
dimensões das realidades socioambientais como também das diversas dimensões da
pessoa que entra em relação com estas realidades, da globalidade e da
complexidade de seu “ser-no-mundo”. O sentido de “global” aqui é muito
diferente de “planetário”; significa antes holístico, referindo-se à totalidade
de cada ser, de cada realidade, e à rede de relações que une os seres entre si
em conjuntos onde eles adquirem sentido.
A corrente holística
não associa proposições necessariamente homogêneas, como é o caso das outras
correntes. Algumas proposições, por exemplo, estão mais centradas em
preocupações de tipo psicopedagógico (apontando para o desenvolvimento global
da pessoa em relação ao seu meio ambiente); outras estão ancoradas numa
verdadeira cosmologia (ou visão do mundo) em que todos os seres estão
relacionados entre si, o que leva a um conhecimento “orgânico” do mundo e a um
atuar participativo em e com o ambiente.
Por exemplo, o
Instituto de Ecopedagogia da Bélgica (sem data) oferece sessões de formação em
educação ambiental que integram um enfoque holístico da aprendizagem e da
relação com o meio, numa perspectiva psicopedagógica.
Em seu “caderno de
ecopedagogia” intitulado “Receitas e não-receitas” (sem data) encontra-se uma
“Holificha” que convida a favorecer a apropriação de um lugar (um bosquezinho,
por exemplo) para exploração livre, autônoma e espontânea, recorrendo a uma
diversidade de enfoques das realidades:
enfoques
sensorial, cognitivo, afetivo, intuitivo, criativo, etc. Encontra-se igualmente
uma “Servoficha” que convida a levar em conta os diversos campos do “cérebro
global”: os campos do raciocinado, do imaginado, do formalizado, do sentido.
Numa perspectiva
holística mais fundamental ainda, Nigel Hoffmann (1994) se inspira no filósofo
Heidegger e no poeta naturalista Goethe para propor um enfoque orgânico das
realidades ambientais. Devem-se abordar, efetivamente, as realidades ambientais
de uma maneira diferente daquelas que contribuíram para a deterioração do meio
ambiente. O processo de investigação não consiste em conhecer as coisas a
partir do exterior, para explicá-las; origina-se de uma solicitação, de um
desejo de preservar seu ser essencial permitindo-lhes revelar-se com sua
própria linguagem. Permitir aos seres (as plantas, os animais, as pedras, as
paisagens, etc.) falar por si mesmos, com sua própria natureza, antes de encerrar
essas naturezas a priori ou logo a seguir em nossas linguagens e teorias,
permitirá que nos ocupemos melhor deles. Goethe convida a aprender a se
comprometer com os seres, com a natureza, a participar dos fenômenos que
encontramos, para que nossa atividade criativa (criatividade técnica,
artística, artesanal, agrícola, etc.) se associe com a da natureza. Se
escutamos a linguagem das coisas, se aprendemos a trabalhar de maneira criativa
em colaboração com as forças criativas do meio ambiente, podemos criar
paisagens nas quais os elementos (naturais, adaptados, construídos) se
desenvolvem e se harmonizam como num jardim.
A
CORRENTE BIORREGIONALISTA
Segundo Peter Berg e
Raymond Dasmand (1976, em Traina e Darley-Hill, 1995), que aclararam o conceito
de biorregião, esta última tem dois elementos essenciais: 1) trata-se de um
espaço geográfico definido mais por suas características naturais do que por
suas fronteiras políticas; 2) refere-se a um sentimento de identidade entre as
comunidades humanas que ali vivem, à relação com o conhecimento deste meio e ao
desejo de adotar modos de vida que contribuirão para a valorização da
comunidade natural da região.
Uma biorregião é um
lugar geográfico que corresponde habitualmente a uma bacia hidrográfica e que
possui características comuns como o relevo, a altitude, a flora e a fauna. A
história e a cultura dos humanos que a habitam fazem parte também da definição
de uma biorregião. A perspectiva biorregional nos leva então a olhar um lugar
sob o ângulo dos sistemas naturais e sociais, cujas relações dinâmicas
contribuem para criar um sentimento de “lugar de vida” arraigado na história
natural assim como na história cultural (Marcia Nozick, 1995, p. 99).
O biorregionalismo
surge, entre outros, no movimento de retorno à terra, em fins do século
passado, depois das desilusões com a industrialização e a urbanização massivas.
Trata-se de um movimento socioecológico que se interessa em particular pela
dimensão econômica da “gestão” deste lar de vida compartilhada que é o meio
ambiente.
A corrente
biorregionalista se inspira geralmente numa ética ecocêntrica e centra a
educação ambiental no desenvolvimento de uma relação preferencial com o meio
local ou regional, no desenvolvimento de um sentimento de pertença a este
último e no compromisso em favor da valorização deste meio.
Trata-se de aprender
a reabitar a Terra, segundo as propostas de Davir Orr (1992, 1996) e de Wendel
Berry (1997). Reconhece-se aqui o caráter inoportuno desta “pedagogia do além”
que baseia a educação em considerações exógenas ou em problemáticas planetárias
que não são vistas em relação com as realidades do contexto de vida e que
oferecem poucas ocasiões concretas para atuações responsáveis.
O modelo pedagógico
desenvolvido por Elsa Talero e Gloria Humana de Gauthier (1993), da
Universidade Pedagógica Nacional (Bogotá, Colômbia) se inscreve numa
perspectiva biorregional. Este modelo serve de fundamento para um programa de
formação de professores que as autoras desenvolveram e que está destinado às
regiões dos arredores de Bogotá. A escola torna-se aqui o centro do
desenvolvimento social e ambiental como meio de vida. A educação ambiental está
centrada num enfoque participativo e comunicativo: ela convoca os pais e outros
membros da comunidade. Trata-se primeiramente de se comprometer num processo de
reconhecimento do meio e de identificação das problemáticas ou das perspectivas
de desenvolvimento deste último.
A síntese desta
exploração dá lugar à elaboração de um mapa conceitual das principais
características do meio ambiente, que põe em evidência os elementos
inter-relacionados aos problemas observados. Logo, emergem os projetos de
resolução destes problemas numa perspectiva pró-ativa de desenvolvimento
comunitário. Cada projeto é examinado com uma visão sistêmica, contribuindo
para um projeto de desenvolvimento biorregional de conjunto mais vasto. Um dos
projetos considerados é então identificado como prioritário, ou porque
corresponde a uma preocupação dominante ou porque permite intervir mais acima
numa “cadeia” de problemas inter-relacionados. Nesse momento a ligação entre o
projeto escolhido e o currículo escolar é aclarada pelos professores. Não é,
pois, o currículo formal que determina o projeto pedagógico mas este último é
que dá uma significação contextual ao currículo formal e que o enriquece. Entre
os projetos desenvolvidos mencionemos um que busca resolver o problema da perda
de qualidade dos solos, em relação com a necessidade de promover uma economia
biorregional: numa dinâmica comunitária, os alunos empreenderam o
desenvolvimento de uma pequena empresa de produção de frutas e de transformação
destas em geleia, vendida no mercado regional. Para favorecer uma produção de
qualidade e enriquecer o solo, as pessoas da comunidade foram convidadas a proporcionar
adubo fabricado com as sobras de suas atividades piscícolas e hortícolas. Este
projeto contribuiu para desenvolver uma visão ecossistêmica da produção
piscícola e agrícola e para integrar estas atividades entre si, para otimizar a
produção, minimizar as perdas e combater a contaminação do meio.
A
CORRENTE PRÁXICA
A ênfase desta
corrente está na aprendizagem na ação, pela ação e para a melhora desta. Não se
trata de desenvolver a priori os conhecimentos e as habilidades com vistas a
uma eventual ação, mas em pôr-se imediatamente em situação de ação e de
aprender através do projeto por e para esse projeto.
A aprendizagem
convida a uma reflexão na ação, no projeto em curso. Lembremos que a práxis
consiste essencialmente em integrar a reflexão e a ação, que, assim, se
alimentam mutuamente.
O processo da corrente práxica é, por
excelência, o da pesquisa-ação, cujo objetivo essencial é o de operar uma
mudança num meio (nas pessoas e no meio ambiente) e cuja dinâmica é
participativa, envolvendo os diferentes atores de uma situação por transformar.
Em educação ambiental, as mudanças previstas podem ser de ordem socioambiental
e educacional.
William Stapp e
colaboradores (1988) desenvolveram um modelo pedagógico que ilustra muito bem a
corrente práxica: A pesquisa-ação para a resolução de problemas comunitários.
Trata-se de empreender um processo participativo para resolver um problema
socioambiental percebido no meio imediato da vida. Mas além do processo
habitual de resolução de problemas, trata-se de integrar uma reflexão constante
sobre o projeto de ação empreendido: por que empreendemos este projeto? Nossa
finalidade e nossos objetivos mudam no caminho? Nossas estratégias são
apropriadas? O que aprendemos durante a realização do projeto? O que ainda devemos
aprender? Nossa dinâmica de trabalho é saudável? Etc. Realmente, um projeto
deste tipo é um cadinho de aprendizagem: não se trata de saber tudo antes de
passar pela ação, mas de aceitar aprender na ação e de ir reajustando-a.
Aprende-se também sobre si mesmo e se aprende a trabalhar em equipe. Mas uma
das características da proposição de William Stapp é a de associar
estreitamente as mudanças socioambientais com as mudanças educacionais
necessárias: para operar estas mudanças no meio, é preciso transformar
inicialmente nossas maneiras tradicionais de ensinar e de aprender. Deve-se
ajudar os jovens a se tornarem atores do mundo atual e futuro, caracterizado
por numerosas e rápidas mudanças e pela complexidade dos problemas sociais e
ambientais.
A
CORRENTE DE CRÍTICA SOCIAL
A corrente práxica é
muitas vezes associada à da crítica social. Esta última se inspira no campo da
“teoria crítica”, que foi inicialmente desenvolvida em ciências sociais e que
integrou o campo da educação, para finalmente se encontrar com o da educação
ambiental nos anos de 1980 (Robottom e Hart, 1993).
Esta corrente
insiste, essencialmente, na análise das dinâmicas sociais que se encontram na
base das realidades e problemáticas ambientais: análise de intenções, de
posições, de argumentos, de valores explícitos e implícitos, de decisões e de
ações dos diferentes protagonistas de uma situação. Existe coerência entre os
fundamentos anunciados e os projetos empreendidos? Há ruptura entre a palavra e
a ação? Em particular, as relações de poder são identificadas e denunciadas:
quem decide o quê? Para quem? Por quê? Como a relação com o ambiente se submete
ao jogo dos valores dominantes? Qual é a relação entre o saber e o poder? Quem
tem ou pretende ter o saber? Para que fins? As mesmas perguntas são formuladas
a propósito das realidades e problemáticas educacionais, cuja ligação com as
problemáticas ambientais dever ser explícita: a educação é ao mesmo tempo o
reflexo da dinâmica social
e o cadinho das mudanças. Como exemplo de
pergunta crítica: por que a integração da educação ambiental no meio escolar
apresenta problemas? Em que a educação ambiental pode contribuir para
desconstruir a herança nefasta do colonialismo em certos países em
desenvolvimento?
Esta postura
crítica, com um componente necessariamente político, aponta para a
transformação de realidades. Não se trata de uma crítica estéril. Da pesquisa
ou no curso dela emergem projetos de ação numa perspectiva de emancipação, de
libertação das alienações. Trata-se de uma postura corajosa, porque ela começa
primeiro por confrontar a si mesma (a pertinência de seus próprios fundamentos,
a coerência de seu próprio atuar) e porque ela implica o questionamento dos
lugares-comuns e das correntes dominantes.
Chaia Heller (2003),
vinculando-se à corrente de ecologia social (mais especificamente ao Instituto
para a Ecologia Social, organismo preocupado com a transformação social e
ecológica por meio de ativismos e da educação) propõe um processo crítico em
três tempos: uma fase crítica, uma fase de resistência e uma fase de
reconstrução. Sua proposição se inspira, em seu conjunto, no anarquismo social
que “rejeita os preceitos liberais clássicos do individualismo e da
concorrência para propor em seu lugar os valores de coletividade e de cooperação”
(p. 104). A autora integra a tal postura crítica um olhar e valores feministas.
A proposição de ecologia social se encontra, vista de vários ângulos, com a
corrente de crítica social.
O modelo de
intervenção desenvolvido por Alberto Alzate Patiño (1994), da Universidade de
Córdoba (Colômbia), compreende numerosos elementos da corrente biorregional;
relaciona-se igualmente com a corrente de critica social. Esta proposição está
centrada numa pedagogia de projetos interdisciplinares que aponta para o desenvolvimento
de um saber-ação, para a resolução de problemas locais e para o desenvolvimento
local. Insiste na contextualização dos temas tratados e na importância do
diálogo dos saberes: saberes científicos formais, saberes cotidianos, saberes
de experiência, saberes tradicionais, etc. É preciso confrontar estes saberes
entre si, não aceitar nada em definitivo, abordar os diferentes discursos com
um enfoque crítico para esclarecer a ação. Esta última deve, por outro lado, se
apoiar em um referencial teórico e gerar elementos para o enriquecimento
progressivo de uma teoria da ação. Teoria e ação estão estreitamente ligadas
numa perspectiva crítica. A primeira etapa do processo que propõe este modelo é
a análise dos textos relativos a um tema ambiental, a água, por exemplo: textos
de tipo argumentativo, textos científicos, informes de estudos, artigos de
jornais, textos literários, poemas, etc. Cada texto é analisado em função de
suas intenções, de seu enfoque, de seus fundamentos, das implicações destes últimos,
de sua significação fundamental em relação ao meio ambiente. Do conjunto destes
textos, se desprendem depois diferentes problemas: problemas de saber, de ação
e de saber-ação. Passa-se assim da temática à problemática, através de
diferentes discursos. A segunda etapa é relacionar a problemática explorada
pelos textos com a realidade local, cotidiana: por exemplo, como se estabelece
aqui a nossa relação com a água? A quais problemas estão associados?
Em que está
envolvida a cultura social nesta relação com a água? Inicia-se, então, um
processo de pesquisa para compreender melhor estes problemas, aclarar o
significado das realidades para as pessoas que estão associadas e para buscar
soluções: aqui entra novamente em jogo o diálogo dos saberes, a fim de abordar
a situação sob diversos ângulos complementares e confrontar entre si as
diversas visões e soluções de uma perspectiva crítica. Depois se elaboram
projetos a partir de uma perspectiva comunitária. Os projetos são concebidos e
apresentados às autoridades municipais que, em colaboração com os responsáveis
pelo meio escolar, escolhem aqueles que estão mais bem argumentados e melhor
concebidos, a fim de lhes dar ajuda financeira para sua realização. O pessoal
do ou dos projetos selecionados convoca todos para participar, na escola e na
comunidade. Uma das maiores preocupações durante a concepção e o
desenvolvimento dos projetos é a de fazer surgir progressivamente uma teoria da
ação socioambiental (um saber-ação). Cada aluno, inclusive na escola fundamental,
é convidado a refletir sobre o projeto, sua essência, para assim aclarar sua
razão de ser e seu significado (seus fundamentos) e para descobrir o que se
aprende realizando tal ação (sobre a própria problemática e sobre o processo de
implementação).
A
postura crítica é igualmente aplicada às realidades educacionais.
A educação ambiental
que se inscreve numa perspectiva sociocrítica (socially critical environmental
education) convida os participantes a entrar num processo de pesquisa em
relação a suas próprias atividades de educação ambiental (...). É preciso
considerar particularmente as rupturas entre o que o prático pensa que faz e o
que na realidade faz e entre o que os participantes querem fazer e o que podem
fazer em seu contexto de intervenção específica. O prático deve se comprometer
neste questionamento, porque a busca de soluções válidas passa pela análise das
relações entre a teoria e a prática. (...) A reflexão crítica deve abranger
igualmente as premissas e valores que fundam as políticas educacionais, as
estruturas organizacionais e as práticas em aula. O prático pode desenvolver,
através deste enfoque crítico das realidades do meio, sua própria teoria da
educação ambiental (Robottom e Hart, 1993, p. 24).
A
CORRENTE FEMINISTA
Da corrente da
crítica social, a corrente feminista adota a análise e a denúncia das relações
de poder dentro dos grupos sociais. Mas, além disso, e quanto às relações de
poder nos campos político e econômico, a ênfase está nas relações de poder que
os homens ainda exercem sobre as mulheres, em certos contextos, e na
necessidade de integrar as perspectivas e os valores feministas aos modos de
governo, de produção, de consumo, de organização social. Em matéria de meio
ambiente, uma ligação estreita ficou estabelecida entre a dominação das
mulheres e a da natureza: trabalhar para restabelecer relações harmônicas com a
natureza é indissociável de um projeto social que aponta para a harmonização
das relações entre os humanos, mais especificamente entre os homens e as mulheres.
A corrente feminista
se opõe, no entanto, ao predomínio do enfoque racional das problemáticas
ambientais, tal como frequentemente se observa nas teorias e práticas da
corrente de crítica social. Os enfoques intuitivo, afetivo, simbólico,
espiritual ou artístico das realidades do meio ambiente são igualmente
valorizados. No contexto de uma ética da responsabilidade, a ênfase está na
entrega: cuidar do outro humano e o outro como humano, com uma atenção
permanente e afetuosa.
Se no começo o
movimento feminista se aplicou principalmente em remanejar e denunciar as
relações de poder entre os homens e as mulheres, a tendência atual é, antes, a
de trabalhar ativamente para reconstruir as relações de “gênero”
harmoniosamente, através da participação em projetos conjuntos, onde as forças
e os talentos de cada um e de cada uma contribuam de maneira complementar. Os
projetos ambientais oferecem um contexto particularmente interessante para
estes fins, porque implicam (certamente em graus diversos) a reconstrução da
relação com o mundo.
Numa perspectiva
educacional, Annette Greenall Gough (1998) aplica a crítica feminista ao
movimento de educação ambiental. Observa, entre outras coisas que, durante os
mais importantes eventos internacionais que fundaram a educação ambiental, não
se encontram sinais da contribuição das mulheres.
Esta autora formula igualmente uma viva
crítica em relação à proposição do “desenvolvimento sustentável” que se insinua
na educação ambiental: apesar do chamado à equidade social, ela está associada
a uma visão de mundo que consagra o predomínio das atuais relações de poder em
nossas sociedades.
A insignificância
dos argumentos (associados à ideia de sustentabilidade) e a arrogância dos que
a desenvolvem, quer dizer, homens brancos, classe média, educados e
profissionais, são evidentes. Devemos estimular as pessoas a desconstruir estes
argumentos para pôr em dia os valores que os sustentam e as perspectivas que
eles supõem (Annette Gough, 1998, p. 168, tradução livre).
O modelo de
intervenção em educação ambiental desenvolvido por Darlene Clover e
colaboradores (2000) integra um componente feminista complementar com outros
enfoques: os enfoques naturalistas, andragógico, etnográfico e crítico.
Como a educação
popular, a educação de adultos com uma perspectiva feminista é também um
processo de “conscientização”, no sentido que lhe dá Paulo Freire, quer dizer,
um processo no qual as pessoas não são receptoras de um saber exógeno, mas
sujeitos em aprendizagem que despertam para as realidades socioculturais, que
dão forma à sua vida e desenvolvem habilidades para transformar estas
realidades que lhes concernem. A educação feminista busca transformar as
mulheres, incluindo no processo de aprendizagem sua realidade cotidiana e sua
própria experiência. A educação feminista de adultos se caracteriza por uma
forte conotação política de mobilização e de desenvolvimento de um poder-fazer
(empowerment). A ênfase está no apoio ao desenvolvimento pessoal das mulheres,
suscitando ao mesmo tempo a ação política que busca transformar as estruturas
opressivas. O processo de compreensão e de tomada de decisões é tão importante
como o resultado porque através deste processo se desenvolve o poder-fazer
(...). Os educadores feministas acham que a paixão, as emoções, os sentimentos
e a criatividade fazem parte do processo de aprendizagem. Constatam igualmente
que é vantajoso trabalhar em grupos pequenos para favorecer a expressão de
ideias e preocupações das mulheres.
As estratégias do
teatro popular e das oficinas de poesia, de contos, de dança, de canto e de
desenho se manifestaram como mais apropriadas do que a expressão escrita para
favorecer a expressão de emoções. Como as pessoas têm diferentes estilos de
aprendizagem, uma diversidade de estratégias deste tipo favorece a
criatividade, a imaginação, a expressão de emoções e o surgimento e a
circulação de ideias (...). Frequentemente as mulheres são as primeiras a
intervir em educação ambiental. Em seus lares e comunidades, desenvolvem uma
compreensão particular dos processos naturais do meio. Há séculos, as mulheres
estiveram envolvidas no ensino da medicina tradicional e nos cuidados de saúde,
em colher as sementes e em manter a biodiversidade, em cultivar e preparar os
alimentos, em trabalhar a mata e em administrar a provisão de água. Estas
habilidades são cada vez mais essenciais frente à degradação do meio ambiente
(...). As mulheres desenvolveram no cotidiano estratégias de sobrevivência em
que deve-se inspirar a sobrevivência do planeta. Suas ideias e suas ações traduzem
outra compreensão das problemáticas atuais (...), ao nível de um saber superior
(...). (Darlene Clover et al., 2000, p. 16-18).
A
CORRENTE ETNOGRÁFICA
A corrente
etnográfica dá ênfase ao caráter cultural da relação com o meio ambiente. A
educação ambiental não deve impor uma visão de mundo; é preciso levar em conta
a cultura de referência das populações ou das comunidades envolvidas.
O etnocentrismo que
consiste em tomar como referência as categorias de pensamento das sociedades
ocidentais permitiu durante longo tempo designar as outras culturas como
sociedades sem estado, sem economia ou sem educação. Pelo contrário, quando o
diálogo intercultural é real, ele produz uma interrogação radical sobre os
problemas mais cruciais que têm as sociedades pós-modernas (...)
O estudo das formas
educativas ameríndias inverte nossa concepção centrada na transmissão da
informação ou do saber-fazer. A educação ameríndia é antes um companheirismo
iniciático que busca a imersão na experiência e sua compreensão simbólica
(...). A transformação é inseparável da busca do sagrado (...). Dá-se ênfase à
observação e à participação ativa. O sentido não é dado a priori, emerge de
ressonâncias simbólicas que se revelam na interação entre uma pessoa e um
evento. Todo evento é potencialmente portador de sentido por integrar, seja um
rito, uma atividade artesanal, a caça ou um ato da vida cotidiana (Galvani,
2001).
A corrente
etnográfica propõe não somente adaptar a pedagogia às realidades culturais
diferentes, como se inspirar nas pedagogias de diversas culturas que têm outra
relação com o meio ambiente. Para isso, Thierry Pardo (2001) explora os
contornos, as características e as possibilidades de uma certa etnopedagogia.
Esta se inspira em diversos enfoques e estratégias de educação adotados pelas
populações autóctones, quer se trate de povos ameríndios, quer de comunidades
regionais caracterizadas por sua cultura particular, sua tradições específicas.
O autor apresenta em sua obra algumas destas estratégias: a exploração da
língua, por meio do estudo da toponímia, por exemplo, ou a análise das palavras
de diferentes línguas para designar um mesmo objeto, os contos, as lendas, as
canções, a imersão solitária numa paisagem, o gesto que será modelo ou exemplo,
etc.
Apontemos como
exemplo nesta perspectiva o modelo pedagógico proposto por Michael J. Caduto e
Joseph Bruchac (1988). Este modelo, intitulado Os Guardiões da Terra, é
centrado na utilização de contos ameríndios: trata-se de desenvolver uma
compreensão e uma apreciação da Terra para adotar um atuar responsável em
relação ao meio ambiente e às populações humanas que são parte dele. Privilegia
uma relação com a natureza fundada na pertença e não no controle. A criança
aprende que ela mesma é parte do meio ambiente, frente ao qual desenvolve um
sentimento de empatia. O processo consiste em apresentar um conto a um grupo de
alunos e convidá-los a explorar juntos o universo simbólico. Algumas atividades
(principalmente em meio natural) permitem depois experimentar a relação com a
natureza proposta pelo conto.
A
CORRENTE DA ECOEDUCAÇÃO
Esta corrente está
dominada pela perspectiva educacional da educação ambiental. Não se trata de
resolver problemas, mas de aproveitar a relação com o meio ambiente como
cadinho de desenvolvimento pessoal, para o fundamento de um atuar significativo
e responsável. O meio ambiente é percebido aqui como uma esfera de interação
essencial para a ecoformação ou para a ecoontogênese. Distinguiremos aqui estas
duas proposições, muito próximas ambas, no entanto distintas, principalmente em
relação a seus respectivos contextos de referência.
A
ecoformação[1]
Segundo Gaston
Pineau (2000, p. 129) da Universidade François-Rabelais, de Tours (França), a
formação (no sentido do bildung alemão) se articula em torno de três
movimentos: a socialização, a personalização e a ecologização.
– A heteroformação.
Esta forma de educação é amplamente dominante, até exclusiva nos sistemas
educativos de nossa sociedade. “A educação vem dos homens, dos pais, dos
semelhantes, da instituição escolar” (Cotterau, 2001, p. 13).
– A autoformação.
Segundo Pascal Galvani (1997, p. 8), a auto-formação designa o processo pelo
qual um sujeito reage sobre a aparição de sua própria forma. Ela expressa uma
tomada de controle pela pessoa de seu próprio poder de formação (Galvani,
1997).
– A ecoformação. “É
o terceiro pólo de formação, o mais discreto, o mais silencioso” (Pineau, 2000,
p. 132) e provavelmente o mais esquecido.
A ecoformação se
interessa pela formação pessoal que cada um recebe de seu meio ambiente físico:
“Todo mundo recebeu de um elemento e de outro, de um espaço e de outro, uma
ecoformação particular que constitui finalmente sua história ecológica”
(Cottereau, 2001, p. 13). O espaço “entre” a pessoa e seu meio ambiente não
está vazio, é aquele onde se tecem as relações, a relação da pessoa com o
mundo.
O meio ambiente nos
forma, nos deforma e nos transforma, pelo menos tanto quanto nós o formamos, o
deformamos, o transformamos. Neste espaço de reciprocidade aceita ou rejeitada
se processa nossa relação com o mundo. Nesta fronteira (de espaço e tempo) se
elaboram os fundamentos de nossos atos para o meio ambiente. No espaço entre a
própria pessoa e o outro (trata-se de uma pessoa, um animal, um objeto, um
lugar...), cada um responde ao desafio vital de “ser-no-mundo”. Esta expressão
“ser-no-mundo” permite compreender que o ser não é nada sem o mundo no qual
vive e que o mundo é composto por um conjunto de seres que o povoam. Examinar o
“ser-no-mundo” é entrar no que forma a relação de cada um com seu ambiente
(...). A ecoformação dedica-se a trabalhar sobre o “ser-no-mundo”:
conscientizar-se do que acontece entre a pessoa e o mundo, em interações vitais
ao mesmo tempo para a pessoa e para o mundo. O biológico faz parte disso porque
nosso organismo assegura sua sobrevivência com as contribuições externas de
nosso corpo; mas é próprio do ser humano também desenvolver uma relação
simbólica essencial e ativa no mundo. Pouco explorada pelo campo da educação
ambiental, toda sua problemática está, no entanto, no religar, na
ecodependência e no sentido que cada qual dá à sua existência (Dominique
Cottereau, 1999, p. 11-12).
A
ecoontogênese[2]
O conceito de
ecoontogênese (gênese da pessoa em relação a seu meio ambiente, Oïkos) foi construído
por Tom Berryman (2002), ao término de seus trabalhos que tratavam de
atualizar, de traduzir e analisar todo um setor de literatura, sobretudo
norte-americana, de inspiração psicológica, centrada neste processo. Tom
Berryman sublinha as diferenças importantes nas relações com o meio ambiente e
com a natureza entre os bebês, as crianças e os adolescentes, e convida a
adotar práticas educativas diferenciadas em relação a esses sujeitos. Põe
também em evidência que as relações com o meio ambiente desempenham um papel
importante no desenvolvimento do sujeito, em sua ontogênese. Para este autor,
antes do tema da resolução de problemas e numa perspectiva de educação
fundamental, são os laços com o meio ambiente que devem ser considerados em
educação ambiental como um elemento central e primordial da ontogênese.
Assim como outras
teorias do desenvolvimento humano buscam reconhecer períodos ou estágios do
desenvolvimento nos quais os educadores tratam, às vezes, de aproximar suas
próprias teorias e práticas (pensemos aqui na influência dos trabalhos de Freud
ou de Piaget), uma teoria da ecoontogênese busca caracterizar e diferenciar os
períodos particulares quanto aos tipos de relação com o meio ambiente e
associar a isso práticas específicas de educação ambiental (...). Uma das
perguntas-chave feitas pela corrente da ecoontogênese poderia ser a seguinte:
em nossos processos educativos, tanto pelo objeto que preconizamos, como pela
língua que utilizamos e pelos ambientes em que os realizamos, em que “cosmos”,
em que mundo, introduzimos as crianças? (Tom Berryman, 2003).
A
CORRENTE DA SUSTENTABILIDADE
A ideologia do
desenvolvimento sustentável, que conheceu sua expansão em meados dos anos de
1980, penetrou pouco a pouco o movimento da educação ambiental e se impôs como
uma perspectiva dominante. Para responder as recomendações do Capítulo 36 da
Agenda 21, resultante da Cúpula da Terra em 1992, a UNESCO substituiu seu
Programa Internacional de Educação Ambiental por um Programa de Educação para
um futuro viável (UNESCO, 1997), cujo objetivo é o de contribuir para a
promoção do desenvolvimento sustentável. Este último supõe que o
desenvolvimento econômico, considerado como a base do desenvolvimento humano, é
indissociável da conservação dos recursos naturais e de um compartilhar
equitativo dos recursos. Trata-se de aprender a utilizar racionalmente os
recursos de hoje para que haja suficientemente para todos e se possa assegurar
as necessidades do amanhã. A educação ambiental torna-se uma ferramenta, entre
outras, a serviço do desenvolvimento sustentável.
Segundo os
partidários desta corrente, a educação ambiental estaria limitada a um enfoque
naturalista e não integraria as preocupações sociais e, em particular, as
considerações econômicas no tratamento das problemáticas ambientais. A educação
para o desenvolvimento sustentável permitiria atenuar esta carência.
Desde 1992, os
promotores da proposição do desenvolvimento sustentável pregam uma “reforma” de
toda a educação para estes fins. Tratava-se de instaurar uma “nova” educação.
Num documento intitulado Reforma da educação para um desenvolvimento
sustentável, publicado e difundido pela UNESCO no Congresso Eco-Ed que
pretendia dar continuidade ao Capítulo 36 da Agenda 21, pode-se ler: A função
de uma educação que responde às necessidades do desenvolvimento sustentável
consiste essencialmente em desenvolver os recursos humanos, em apoiar o
progresso técnico e em promover as condições culturais que favorecem as
mudanças sociais e econômicas.
Isso é a chave da
utilização criadora e efetiva do potencial humano e de todas as formas de
capital para assegurar um crescimento rápido e mais justo, reduzindo as
incidências no meio ambiente. (...) Os fatos provam que a educação geral está
positivamente ligada à produtividade e ao progresso técnico porque ela permite
às empresas obterem e avaliarem as informações sobre as novas tecnologias e
sobre oportunidades econômicas variadas. (...) A educação aparece cada vez
mais, não apenas como um serviço social, mas como um objeto de política
econômica (L. Albala-Bertrand et al., 1992).
A corrente
desenvolvimentista, como as correntes precedentes, não é monolítica. Ela
integra diversas concepções e práticas. Entre estas últimas, é importante
sublinhar aquelas que estão mais ligadas ao conceito de sustentabilidade ou
viabilidade. A “sustentabilidade” está geralmente associada a uma visão
enriquecida do desenvolvimento sustentável, menos economicista, onde a
preocupação com a manutenção da vida não está relegada a um segundo plano.
Em resposta ao
princípio fundamental do desenvolvimento sustentável, a educação para o consumo
sustentável chega a ser uma estratégia importante para transformar os modos de
produção e de consumo, processos de base da economia das sociedades. A proposta
de Edgar Gonzáles-Gaudiano oferece um exemplo de visão integrada de
preocupações econômicas, sociais e ambientais numa perspectiva de
sustentabilidade.
A educação ambiental
para o consumo sustentável se preocupa sobretudo em proporcionar a informação
sobre os produtos (os modos de produção, os possíveis impactos ambientais, os
custos de publicidade, etc.) e em desenvolver nos consumidores capacidades de
escolha entre diferentes opções (...). No entanto se descuida muito
seguidamente de levar em conta as disparidades econômicas, a pobreza e a
obrigação de satisfazer as necessidades fundamentais (...) A educação ambiental
para o consumo sustentável deve adotar estratégias diferenciadas para cada
grupo e segmento da população. Por exemplo, necessita-se de estratégias
apropriadas para populações vulneráveis, analfabetas ou privadas de informação
e de serviços, as quais têm um fraco poder de compra: trata-se de ajudá-las a
vencerem sua vulnerabilidade econômica e legal mediante processos educativos
específicos que levem a “eliminar a pobreza e reforçar a democracia por meio de
processos participativos e pela valorização de produtos culturais” (CI/CEAAL,
1996, p. 7). A educação ambiental para o consumo sustentável deve considerar os
processos sociais atuais ligados ao fenômeno da globalização (por exemplo, o
ataque à identidade e a fragmentação dos grupos sociais). A identidade social
está cada vez mais ligada ao consumo de certos produtos (vestuário, música,
alimentação, etc.). As práticas comerciais atuais criaram condições tais que
chega a ser inconveniente, por exemplo, criticar os jovens que se identificam
mais com a música rock do que com as canções folclóricas. Sua identidade foi
configurada desta maneira; eles agem conforme uma concepção de si mesmos e dos
outros, que difere da de seus pais. Isto deve ser considerado nas intervenções
educativas. A identidade não está mais simplesmente ligada ao território
nacional e à cultura regional; as dimensões materiais e simbólicas foram
efetuadas pela globalização (...) A educação dos consumidores confronta
diretamente os interesses corporativos de grandes produtores e distribuidores,
que, em muitos casos, atuaram com impunidade.
Mas uma verdadeira
cidadania não pode existir sem uma participação mais inteligente na defesa dos interesses
e aspirações da população (...) para a valorização das pessoas, além da
valorização da riqueza (Gaudiano, 1990).
Refletindo
sobre esta cartografia do espaço pedagógico da educação ambiental.
A sistematização precedente corresponde a um
esforço de “cartografia” das proposições pedagógicas no campo da educação
ambiental. Deve-se notar que este trabalho foi desenvolvido mais num contexto
cultural norte-americano e europeu, explorando, entre outros, os bancos de
dados ERIC e FRANCIS. Infelizmente, apesar de diversos autores, não integra
suficientemente os trabalhos dos educadores da América Latina nem de outros
contextos culturais.
REFERÊNCIAS
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L. Refonte de l’éducation. Pour un
développement durable. Paris: Organisation des Nations Unies pour l’éducation,
la science et la culture (UNESCO), 1992.
ALZATE
PATIÑO, A.; CASTILLO, L.A.; GARAVITO, B.A.; MUÑOZ, P. Propuesta pedagógica para
el desarrollo local ambiental. Una estrategia en construcción. Colombia:
Planeta Rica, 1994.
BERRY, W. Unsettling of America: culture and
agriculture. San Francisco: Sierra Club, 1977.
BERRYMAN, T. Éco-ontogenèse et éducation: les
relations à l’environnement dans le développement humain et leur prise en
compte en éducation relative à l’environnement durant la petite enfance,
l’enfance et l’adolescence. Mémoire de maîtrise, Faculté d’éducation, Montréal:
Université du Québec à Montréal, 2002.
________ . L’éco-ontogenèse: les relations à
l’environnement dans le développement humain
– d’autres rapports au monde pour d’autres
développements. Éducation relative à l’environnement. Regards – Recherches –
Réflexions, v.4, p.207-228, 2003.
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Native American Stories and Environmental Activities for Children. In: SAUVÉ,
L. Pour une éducation relative à l’environnement. Montréal: Guérin Éditeur,
1997. p.208-209.
CHARLAND, P. L’éducation relative à l’environnement et
l’enseignement des sciences: une problématique théorique et pratique dans une
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CLOVER, D.E.; FOLLEN, S.; HALL, B. The nature of
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Institute for Studies in Education/University of Toronto, 2000.
COHEN, M. Connecting with Nature. Creating moments
that let Earth teach. Eugene (OR): Michael Cohen, World Peace University, 1990.
COTTEREAU, D. Chemins de l’imaginaire. Pédagogie de
l’imaginaire et éducation à l’environnement. La Caunette: Babio, 1999.
[1]
A proposição de
ecoformação foi sintetizada por Carine Villemagne, em Sauvé, L. (2003).
[2]
A proposição de
ecoontogênese foi conceitualizada e sintetizada por Tom Berryman (2002).
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____________________________________________
α β γ δ ∆ λ μ Ω ο ρ φ χ ψ ξ ε η θ π ∂ ∑ ∏ ℮ אօ ∞ ℝ ℕ ℚ ℤ Ø f◦g
½ ¼ ¾ ½ ⅓ ⅔ ⅛ ⅜ ⅝ ⅞ ² ³ ¹ º ª ₁ ₂ ₃ ₄ ≈ ≠ ≡ ∀ ∃ ⇒ ⇔ → ↔
∈∋∧ ∨ ⊂ ⊃ ∩ ∪ − + × ± ∓ ÷ √ ∛ ∜ ⊿∟ ∠→ ↑ ↓ ↕ ← ≤ ≥
outros
√ ∇ ∂ ∑ ∏ ∫ ≠ ≤ ≥ ∼ ≈ ≅ ≡ ∝ ⇒ ⇔ ∈ ∉ ⊂ ⊃ ⊆ ⊇ \ ∩ ∪ ∧ ∨ ∀ ∃ ℜ ℑ